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Notícia • 09/02/2021

Governo criativo para uma economia criativa

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Ao apoiar setores criativos e se pautar pela inovação, governos se tornam mais aptos a atender às necessidades das pessoas

A pandemia que ainda testemunhamos deixará muitos aprendizados. Um dos principais talvez seja a urgência de aprimorarmos a capacidade de reação de governo e sociedade a eventos que desafiam nossa sabedoria. Estimular esses desenvolvimentos pelos vetores da criatividade e da inovação é a resposta mais sustentável que governos podem oferecer atualmente

 

Economias inovadoras e orientadas pela lógica da criatividade são mais resilientes, pois seus agentes são capazes de gerar valor mesmo nos tempos de vacas magras. Governos deveriam agir de maneira semelhante. Ao apoiar setores criativos e se pautar pela inovação, eles se tornam mais aptos a atender às necessidades das pessoas, sobretudo durante crises.

 

Quando debates sobre economia criativa surgiram, nos anos 1990, estávamos mais próximos do mundo analógico. Por isso, o foco eram os setores da cultura. Big data, internet das coisas e criptomoedas eram tecnologias impensáveis, embora uma nova economia começasse a emergir.

 

As inovações tecnológicas dos últimos anos trouxeram mudanças conceituais e práticas. Do ponto de vista conceitual, economia criativa e inovação passaram a ser encaradas como partes de um mesmo processo.

 

Pelo ângulo prático, a primeira passou a incluir setores como o de programação. Portanto, não estamos mais diante de um nicho, mas de um novo modelo de organização econômica e social.

 

Como aponta a OCDE, a inovação será o grande vetor para o crescimento inclusivo. O Brasil, que pretende unir-se à organização, precisa ainda provar sua capacidade de inovar e ser criativo, tanto no setor público como no privado, de modo a reduzir suas profundas desigualdades. No entanto, enquanto governos como o chinês e o alemão reorientam suas economias para a indústria 4.0, continuamos presos a discussões do século XX.

 

O que torna uma sociedade mais próspera atualmente é sua sustentabilidade econômica, social e ambiental, não a primazia de um setor. A agricultura, a indústria e os serviços não são os mesmos do pós-guerra. Uma agricultura de ponta como a brasileira possui mais tecnologia do que certos setores industriais. O mesmo vale para os serviços, como mostra o Reino Unido, que há muito trocou as chaminés de Manchester pelos computadores de Londres. Mas, em todos esses setores, a mecanização acelera-se, destruindo certos empregos e profissões e criando outros. Essa dinâmica exigirá que as pessoas desenvolvam cada vez mais a capacidade de transitar pelos setores da economia.

 

O papel do governo, então, é duplo: estimular a inovação e orientar suas próprias ações por esse paradigma. A inclusão de Santos na rede de cidades criativas da Unesco, por exemplo, teve como premissa o fato deque, apesar de seu imenso patrimônio imaterial, a cidade precisava traduzi-lo em renda, sobretudo para a população mais carente. Por razões históricas, o porto é uma grande fonte de receita. Mas, ao invés de nos limitarmos a essa circunstância, buscamos transbordar para outros segmentos, como cinema e gastronomia, a identidade que a atividade portuária desfruta, como fizeram Busan e Mumbai.

 

Outra medida foi ir além da dimensão cultural, com a criação da incubadora de Santos, que assegura um ambiente favorável à inovação tecnológica, ao articular capacidades de governos, empresas e universidades. Soluções ali desenvolvidas poderão ser replicadas e escaladas, o que mostra seus potenciais benefícios econômicos e sociais.

 

Pelo lado governamental, nos parece que a inovação é favorecida pelos seguintes fatores: participação social, valorização de servidores públicos, parcerias, comunicação efetiva e análise contínua de políticas públicas. Essas podem não ser condições suficientes para garantir uma cultura de inovação e criatividade no setor público e na sociedade, mas dificilmente deixarão de ser consideradas por governos que, focados nas necessidades das pessoas, tenham sido bem sucedidos nesse esforço.