O deputado federal Paulo Alexandre Barbosa (PSDB-SP), presidente da Comissão de Relações Exteriores (Credn) da Câmara, disse em entrevista à GloboNews que receber o ditador da Venezuela Nicolás Maduro como chefe de Estado é uma vergonha para o Brasil. De acordo com o parlamentar, o assunto será discutido durante a reunião extraordinária da Credn desta quarta-feira (31).

“O impacto é extremamente negativo. Nós sabemos que o Maduro enfrenta um processo no Tribunal Penal Internacional por crimes de lesa-humanidade, tortura, prisões arbitrárias, crimes contra a vida gravíssimos. No Conselho de Direitos Humanos da ONU, da mesma forma, Maduro responde por crimes de violação dos Direitos Humanos. Sabemos que a Venezuela é uma ditadura e nós, que valorizamos a democracia, que passamos por um processo desafiador do ponto de vista democrático recentemente, não podemos tolerar esse tipo de conduta, seja ditadura de esquerda ou direita”, afirma o deputado federal. 

O Brasil tem mais de 2 mil quilômetros de fronteira seca com a Venezuela e mais de 20 mil brasileiros moram no país onde a ditadura de Maduro está instaurada desde 2013.

Paulo Alexandre disse ainda, durante a entrevista desta terça-feira (30), que é preciso diferenciar as relações entre os países com o que aconteceu na última segunda-feira (29). “O Brasil deve ter relações diplomáticas com países que agem e pensam diferente do nosso país, isso é natural nas questões diplomáticas. Existe uma dívida bastante significativa da Venezuela com o Brasil, alguns falam sobre mais de US$  1 bilhão de dólares, US$ 2 bilhões de dólares, ou seja, um valor representativo. Então as relações são importantes para discutir esses temas”, alega o parlamentar.

Durante a reunião desta quarta-feira, o presidente da Credn e outros parlamentares farão manifestações de repúdio sobre a conduta da presidência e também vão solicitar informações importantes sobre o valor da dívida entre os países. 

“Tem muitas notícias em relação a isso. Qual a dívida com o BNDES? Qual dívida com o fundo garantidor de exportações, e com empresas brasileiras? Queremos que esses valores sejam divulgados, pois o governo também não se posicionou e é muito importante que o brasileiro tenha acesso a essas informações e que esse debate seja feito aqui no Congresso Nacional”, adianta Paulo Alexandre.

Ainda durante a entrevista para a GloboNews, Paulo Alexandre relembrou que fortalecer o comércio intra-regional é uma necessidade. 

“Há um grande espaço para ampliar as relações comerciais entre os países. Então, essa é uma política acertada, por exemplo, fazer o acordo do Brasil com a União Europeia é fundamental para as relações comerciais. É preciso saber separar as questões e o Congresso estará atento em relação a esses temas. Nós recebemos delegações de parlamentares da União Europeia, do mundo inteiro e nós colocaremos com clareza a posição do parlamento sobre essa conduta do governo brasileiro”, explica o parlamentar.

Eleições na Venezuela

Em 2024, o país comandado por Nicolás Maduro terá eleições e, mais uma vez, os olhos do mundo estarão voltados a esse pleito. Para o deputado Paulo Alexandre Barbosa é preciso que o Brasil atue de maneira a fazer a democracia prevalecer, sem que haja preferência por um lado. 

“Certamente, o Brasil precisa atuar com veemência na fiscalização do processo eleitoral, inclusive, dando os bons exemplos que temos no Brasil de eleições livres. Embora se fale que na Venezuela tenha eleição, todos nós sabemos que não são eleições livres, há mais de 90% de abstenção na eleição. Lá acontecem prisões arbitrárias, confisco de passaportes, cidadãos que pensam diferentemente do regime em vigor e acabam sendo presos, tendo confisco de bens. Isso não é democracia em nenhum lugar do mundo e nós não podemos, como brasileiros, aceitar a valorização desse tipo de conduta”, afirma o deputado que é presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara.

“É importante eliminar todas as ditaduras no mundo. E aqui, um país que faz fronteira com o Brasil, a gente ter essas práticas arcaicas, vergonhosas, é inadmissível. O congresso, em outras oportunidades, já encaminhou representantes da Comissão de Relações Exteriores do Senado para acompanhar os processos desenvolvidos na Venezuela. Se necessário for, devemos agir da mesma forma, não só da parte do Executivo, mas também que o Legislativo possa fazer a sua parte para garantir as eleições livres. A democracia é fundamental para as nações”, finaliza o parlamentar.